outubro 22, 2006

O Bairro Alto

A história do Bairro Alto já vai longa. Nascido da explosão demográfica da Lisboa dos Descobrimentos, caracteriza-se por um emaranhado de ruas estreitas e uma infinidade de becos de forte tradição islâmica. A personagem mais célebre aí nascida foi, possivelmente, o menino Sebastião José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal p'rós amigos, que vivia em arruaças com os putos da rua.
Não há muito tempo era o bairro da sardinha assada na brasa, para o que era preciso pedir licença à vizinha do 1º andar que tinha a roupa a secar; do operário indiscriminado; dos negócios escuros (que vão da droga, às cassetes viciadas e rádios roubados, etc) e, claro, também dos turistas.
Se ainda há um pouco de tudo isso, o Bairro-Alto perdeu muito do seu carácter bairrista que rezam as memórias.
Hoje em dia, passadas as aprovações, o Bairro revive através das sucessivas lojas de roupa, moda e acessórios, p'ra chavala e pro chavalo, e dos restaurantes e bares, que ganham maior vivacidade à noite. De dia mantém-se um bairro semi-acordado, respingado por roupas no estendal e vasos flutuantes. À noite atura com os vomitados dos jovens incipientes.
O Bairro-Alto perdeu os alfaites, as oficinais de madeiras, os pequenos mercados, mas há uma coisa que nunca perdeu que foi o seu ecletismo. Um mundo de bizarrias, excentricidades, de carácter diferenciado, formigueiros de vidas, soltura de costumes, sombras e claridades. As noites do Bairro são aquilo que se pode chamar de diversidade cultural.
Chegando ao largo Camões, olha-se para um lado e temos grupos de estudantes apromados, cheirosos, numa conversa amena sobre genética; do outro lado temos um grupo de satânicos, que...o que é que eles estão a fazer?...aquilo é uma galinha? Enfim... Depois no centro junta-se a maralha do "paz e amor", ou seja, "charros e rastas"...ou "charros e charros"...ou...whatever. A sair de um taxi afobado, um grupo de Suecos com caras de saloios nórdicos, prontos para a caça furtitva. A subir a rua a gang dos basófes, o pessoal da calça acima calça abaixo, brinco d'oiro e cachucho, boné e focinho de maus, a gritarem "Margem Sul". E eu penso cá para mim...se eu me pusesse a gritar "Alfornelos", iam ter mais medo de mim? Hei-de experimentar.
Festas de aniversários, despedidas de solteiras(os), jantares de turma ou por simples vicio e decadência, tudo lá vai parar.
Posso dizer que sou pessoa que me misturo facilmente, não tenho grande problema em estar a falar sobre a teoria do Papa ser alienigena, ou não, com um jovem já bem tocadinho pela uva, e passar para uma conversa sobre os oregãos que o avô tem lá na quinta em Tomar, com um miuda que eu não conheço de lado nenhum, mas que decidiu que eu devia saber que o oregão fresco sabe melhor que o seco. Ou ainda em ter o dom da retótica para afastar um chato que me pede ininterruptamente "smoke, smoke", quase a querer bater-me. E até porque quem pára ali pós lados das "Primas", tem mesmo de saber socializar, porque acaba-se de entrar numa grande família em que toda a gente conhece toda a gente. "Epah, olhó Drogas, meu! Dá cá aquele abraço, puto!"..."Xiiii, olhá Necas, como é que estás miuda? Beijinhos à tua prima, pa!"...
Está-se lá uma horas, encontra.se um pessoal que não se vê há muito...devora-se um pão com chouriço e dá-se umas horas de insonia à mãezinha que me espera ver chegar...mas se há alguma coisa que trago destas vivências nunca é o cheiro do bafo de alcool do 'Queimado'...nem o piropo do chunga que me disse "és uma princesa", mas uma pergunta "o que é que eu lá estava a fazer?".

Ana Luelmo

3 Comments:

At 1:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

=D ja reparei k adoraste a nossa noite no bairro alto anitas... é deveras um momento inesquecivel e k eu aguardo prontamente pa repetir!! viva ao bairro alto e ao pessoal buedax fixe meu!!

 
At 1:01 da manhã, Anonymous Anónimo said...

ass vera... :)

 
At 3:02 da tarde, Anonymous Anónimo said...

a quem o dizes.e eu que moro ao lado das primas

 

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