agosto 22, 2006

I'm gonna live forever!!

A fama. A fama é um estado de graça que muita gente quer atingir. E até certo ponto ninguém pode refutar que ser-se subejamente conhecido tem o seu quê de mágico. Ou melhor...deve ter...porque eu não corro qualquer risco de ser famosa e devo encontrar-me no auge da minha carreira de Zé-ninguém. Mas, sinceramente, não ser famosa ou não estar em vias de, não é coisa que me afecte particularmente.
A minha fama começa dentro de minha casa e acaba quando passo a porta do meu prédio. Depois tenho alguma notoriedade na casa de dois ou três vizinhos (familias de...3 a 4 pessoas); na minha faculdade brilho bastante em conjunto com centésimos alunos, numa massa de energia vibrante (olhem, olhem, lá vai aaaa....aluna nº4024 da fbaul!!) e na casa de outros amigos meus e alguns familiares. Na verdade acho que é um prodígio ter um amigo no prédio da frente, sem sequer saber o nome do meu vizinho de baixo (mas sei o nome do cão dele!), e claro que ele não deve saber o meu. De resto, o meu astro é tão brilhante como um calhau do passeio. E não me refiro ao passeio da fama. Nem ao calhau que jaz no Vaticano dizendo-se ser a primeira pedra com que pedro ajudou a construir a Igreja. Essas coisas inanimadas conseguem ser mais famosas que eu. Se estivessemos ambos pendurados de cabeça para baixo para um caldeirão em chamas, a pedra do pedro e eu, mais rapidamente falariam do pobre calhau.
Mas enfim, ser-se famoso é ser-se reconhecido por pessoas que nem nós conhecemos...e isso acho que só me acontece quando entro na igreja de Odivelas, na paróquia da minha avó, o que é bastante raro, tenho de admitir. Cada vez que lá entro sinto-me uma noiva, mas sem noivo (o que é uma pena, mas na verdade eu não quero bem um noivo, quero um homem mesmo...!). Mas atingir-se um estatuto de celebridade através da glória dos outros, não tem qualquer interesse.
Mas cá para nós, com merecimento ou não, que interesse terá a fama? Andarmos sempre a correr o risco de sermos fotografados com uma alface nos dentes, a comer um hambúrguer extra-extra-cheese, com o ketchup a escorrer-nos pela cara, ou de cuecas a cortar as unhas? Uma vida de fama requer uma grande ginástica que nem toda a gente está disposta a fazer. Eu não estava!
Eu acho que a maior parte desses famosos devem viver verdadeiras crises de identidade, porque vêm todos os dias coisas escritas que nem eles sabiam de si mesmos.
"A fortaleza Jolie-Pitt parece estar a desmoronar-se - Brad diz que ainda ama a ex-mulher"...(título verídico). Não sei se a Angelina vai ficar muito contente com isto. E sendo verdade ou não... a coisa pode abanar com a...estrutura! (hey, eu não ficava...é o Brad Pitt!). E esses jornalistas terão tido essa conclusão, provavelmente, porque viram, a partir dum penhasco abrupto a 1km da mansão Jolie-Pitt, pendurados num galho, a Angelina com um semblante mais deprimido (bem, se for so uma constipação não tem a mesma graça, não é, Marias? Embora se vendessem em leilão os lenços ranhosos da dita, não teriam falta de compradores!)
Claro que quase toda a gente sabe reconhecer que é uma verdadeira falta de respeito esta invasão de privacidade, mas, inevitavelmente, toda a gente quer saber dos mais infimos detalhes da vida destas pessoas. Se não compram as revistas admitam, pelo menos, que olham fixamente para os cabeçalhos das mesmas quando estão numa fila no super-mercado, ou que quando vão ao cabeleireiro lêm tudo com mais interesse com que leram os unicos dois livros que leram na vida. Ok, eu sabia..
Mas pensemos, não me lembro de ter havido alguma paparazzi a ganhar um prémio de melhor fotografia. Normalmente as fotografias que ganham são as mais dramáticas, as de guerra, que figuram pessoas famintas ou extropiadas. E eu questiono-me então: é indigno espalhar a imagem do Brad Pitt a comer um hot dog, satisfeito da vida, mas não é falta de respeito fotografar aquela mulher que pesa 20 kg e que por acaso nem tem uma perna, que mora no meio do pó, lá em nenhures de cima? O Brad Pitt, pelo menos!, é milionário e tem as duas pernas e...come hot dog's! E que, com certeza, vai lucrar muito com essa exposição (até porque ele deve gostar, convenhamos, até de ser apanhado com uma alface nos dentes), mas esta mulher de 20 kg vai ser vista por milhares de pessoas que vão dizer "que horror, coitadinha", mas que depois vão continuar a jantar e esquece-la, sem que se faça seja o que for por ela. E o fotografo lá leva o prémio para casa...o prémio no valor duns quantos euros chorudos e um biblot para dar ao cão para brincar.
É por essas e por outras que me orgulho do meu anonimato: ninguém me usa para subir um degrau; não preciso preocupar-me com o meu cabelo desalinhado (corrijo, muito desalinhado); não corro o risco de ver estampado numa capa "Ana Luelmo é traficante de orgãos" ou pior "Ana Luelmo tem um caso com o Axel"; não preciso sequer duvidar da verdadeira razão para os meus amigos serem meus amigos, nem preocupar-me com as verdadeiras intenções daquele 'gatinho' que até me acha interessante, porque de certo não é para usufruir do meu apartamento de 5 assoalhadas nos arredores de Lisboa (sem varanda ou quaisquer vestígios de terraço), bem no meio dum bairro-dormitório.

Confesso que esta do gatinho foi para alimentar o meu alter-ego.


Ana Luelmo