janeiro 05, 2008

Tatuagens

Elas são, quase sempre, mal vistas, mal interpretadas, são rótulos para gente malvada, delinquente, com interesses obscuros ou vidas desregradas, com uma paleta de doenças interminável e futuros incertos. Exagerei?

É verdade que o mito de que quem faz tatuagens são só os estivadores, os marinheiros ou os presidiários, já está ultrapassado...isto é, o mito foi desmitificado (se é que esta palavra existe! Porque o estúpido do meu computador não a reconhece).

Se em tempos, na nossa sociedade, eram mesmo só essas pessoas que as faziam e, em 90% das vezes, sob o efeito de álcool, hoje em dia toda a gente as faz. E nem vou meter as tribos africanas, e tantas outras, ao barulho, porque esses então...são mais tinta que gente. Sempre as fizeram, e continuarão a fazê-las. E é mesmo dos nossos ancestrais que vem a tradição. Não, não fomos nós que a inventamos, nós apenas lhes damos um aspecto mais 'Pop.'!

Como adepta ferrenha de um Mundo Livre, considero, naturalmente, que cada um é dono do seu próprio destino, do seu próprio corpo e das suas próprias ideias. A liberdade apenas termina quando começa a liberdade do outro.

Podemos fazer tatuagens, podemos acha-las lindas, mas também podemos não as fazer e acha-las horríveis! Até podemos continuar a achar que são só os estivadores que as fazem, mas aí estamos a ser estúpidos. Mas também somos livres de o ser! Sejamos estúpidos, mas livres! Podemos achar completamente idiota que alguém se proponha a passar por uma dor física para as ter, além de marcar o corpo permanentemente...podemos! O bom do nosso mundo é que podemos firmar as nossas personalidades, desenvolver as nossas capacidades e viver da forma que nos faça feliz, da maneira que nos bem entende! Mas, com tatuagens ou sem elas, o ser humano não pode ser descriminado por causa da religião, crenças, etnia, género, condição social...etc., etc., etc., essa lenga-lenga que obrigatoriamente devíamos saber de cor. Porque as nossas virtudes não se vêm através dessas condições, nem os nosso direitos podem ser prejudicados por causa delas.

Mas como tudo na vida, qualquer passo dado deve ser pensado duas ou três vezes. Não só pela tal história de termos de respeitar a liberdade do próximo, mas também para nos protegermos de potenciais desilusões. E no caso das tatuagens, há que pensar, literalmente, duas ou três vezes. É mais ou menos como se fossemos ter um filho. Se o vamos ter, temos de nos propor a cria-lo, educa-lo e, sobretudo, ama-lo, porque ele vai ser permanente na nossa vida. (E, sejamos francos, a tatuagem não nos acorda a meio da noite.)

Quando fazemos uma tatuagem temos de nos propor a aceita-la para sempre. Primeiro tem de fazer muito sentido. Depois temos de interiorizar que se, por algum razão, ela perde esse sentido, teremos de a aceitar como parte de nós. Há quem não goste dos seus olhos, mas não os pode arrancar porque são vitais... o mesmo se poderá dizer em relação a uma tatuagem! Temos de nos olhar no espelho e dizer "estes olhos fazem parte da minha identidade.." ou "Esta tatuagem faz parte da minha identidade". E não se ponham a pensar "Ah e tal posso tirar com Laser se não gostar!", porque esse é o primeiro pensamento acusatório da falta de confiança na tatuagem que vão fazer.

Eu fiz uma tatuagem há pouco tempo. Pensei muito nela, muitos meses até, antes de a fazer. É algo que tem um forte significado para mim e, sei-o à partida, que nunca vai deixar de o ter. Mas, claro, é sempre uma aventura, é sempre uma mudança, por mais pequena que seja, é algo novo que veio para ficar. Mas agora olho-a como se ela sempre tivesse feito parte de mim, como se ela sempre lá tivesse estado, porque tem um sentido muito especial, que vai além do mero adorno.

Mas fica descansada, mãezinha, que não tenciono fazer mais nenhuma! Também não gosto especialmente de ver "tapetes de Arraiolos" ambulantes. Nem faria caveiras, rosas, cruzes, fadas ou dragões. Não! Porque não acho bonito e porque não vejo sentido em fazer uma fadinha, uma borboleta ou um raio dum dragão, que é o que toda a gente faz. Mas isso sou eu... Mas tu, minha mãezinha, também terias de aceitar se eu as fizesse. E que tal um tigre nas costas, só para começar?

Ana Luelmo

dezembro 05, 2007

Os defeitos dos portugueses

Não é que esteja de mal com a vida e me apeteça ofender as pessoas. Também não me aconteceu nada de insólito nem acordei com os pés de fora. Até porque para dizer mal nenhuma destas coisas é essencial. Porquê? Porque moro num país chamado Portugal.

Os portugueses são indivíduos curiosos, ou indebiduos curiosos, como diria o Comandante Torresmo do Quartel dos Bombeiros Voluntários de Fergonholas-a-Velha.

Há uma forte propensão para a bacorada. A língua portuguesa anda aos tropeções na boca de uns e de outros. E não se escolhem idades ou estatutos, qualquer um pode ribombar uma boa asneira, com dentes ou sem eles. Elas saem da boca de condutores de metropolitano ou de professores de matemática aplicada. De meninos de 10 anos (que afinal não sabem assim tanto) ou dos seus extremosos progenitores. E pela insistência que a maioria das pessoas demonstra em repetir certas sandices, qualquer dia já aparecem no dicionário no glossário "alternativas possíveis". De maneiras que háden vir os dias que a gente pÓssamos dizer o que nos apetece! E acho muito bem! Ou será que só os brasileiros é que podem mandar chutos gramaticais sem serem repreendidos?

Depois há aquela coisa provinciana de seguir à letra a filosofia "Menos é Mais". Podem morar por baixo de goteiras e entre colónias de baratas gigantes, mas ter um Mercedes à porta.

"Oh Manela, com quanto menos condições vivermos, melhor pode ser o carro!" - diz o Aurélio;

"Oh criatura, vai-me arranjar antes esses dentes!" - replica a Manela.

Mas como na nossa tradição paternalista a mulher não manda nada, a Sra. Manuela só tem é de se calar ou fica também ela sem os dentes.

Não posso deixar também de falar na regra dos três F's. Para não pensarem já em coisas erradas, eu explico: Fátima, Fado e Futebol (embora não saiba ao certo se Fátima vem antes ou depois do Futebol em termos de prioridades e interesses).

Tive oportunidade de estar em Fátima há bem pouco tempo. Fui visitar a nova igreja, que é muito bonita, por sinal. E em Fátima pude ver o recheio real de que é feito o país.
"Ai, Credo, aquele Senhor não se parece nada com o Nosso Senhor! É preto, parece que vem de Angola!" - reclama, indignada, uma peregrina devota, enquanto outros anuem com a cabeça.

"Eu acho que aquela igreja parece uma nave espacial!" - intervém um homem com metade do almoço a sair da boca.

"Cerrem-me essas bocas, pobres diabos!, que Deus está-nos a oubir, e abre-se-nos já aqui uma fenda na terra como no versículo 17, 8-3, do Apocalipse !" - grita o Sr. do boné a dizer Benfica.

À frente da escultura do João Paulo II gera-se uma fila enorme, todos a quererem beijocar-lhe o manto. Na Capelinha das Aparições amontoam-se as pessoas e as velas, algumas maiores que as próprias pessoas.

Não tendo nada contra a fé alheia, até porque acho que todos nós transportamos o gene da religiosidade e a capacidade de nos transcendermos a nós mesmos, tanto como temos o gene da fome ou da sexualidade... Não é esta beatice o maior dos pecados? As pessoas são racistas, outras ultra-conservadoras, outras apenas ignorantes. E no entanto, todas elas aspiram a um lugar no céu por irem a Fátima nos dias 13, rezarem o terço às 18h com a Rádio Renascença ou saberem de cor os versículos da Bíblia, que muitas vezes, pouco ou nada querem dizer.

Quanto ao futebol, não há muito a dizer. A supremacia dos benfiquistas é visível, pelos menos em número. Até crianças, mal nascem, são feitas sócias do Clube, sendo assim quase toda a população. Acho que se fosse permitido havia quem pusesse aos filhos nomes do género "Miguel Benfiquista", "Águia Alexandre" ou "Glorioso da Silva". Seja como for fazem-nos sócios mesmo antes de lhes fazerem o BI.

O Fado, nisto tudo, é capaz de ser o que se safa. Não que me arrepie com vozes de absinto em pleno Bairro Alto, mas pelo menos o povo descobre ali uma maneira, de forma original, de conviver através da música. Se tirarmos o absinto até posso dizer que é uma forma saudável de conviver. E em vez de se ir para o Colombo atirar cadeiras aos Seguranças porque o Benfica perdeu, canta-se a plenos pulmões os fados da vida.


Ana Luelmo

julho 26, 2007

Mitos Urbanos

Em todas gerações nascem novos mitos urbanos. Hoje vou destacar alguns, aqueles que estão mais na ordem do dia, que pululam de boca em boca, até se tornarem verdades absolutas, mas dum absoluto muito questionável (um tanto paradoxal...diria).

O primeiro mito é de que a Humanidade caminha para a extinção por causa da cada vez mais baixa taxa de natalidade.

O quê!!? Isso só se for aqui, neste pedacinho de terra estreito. Porque, Oh minha gente, eu cá acho que se procria demais!

Desde quando se ouve falar de mulheres de 70 anos a darem à luz? Parece-me coisa recente! No outro dia uma senhora De Tal, com 60's e muitos anos, teve gémeos. Milagre? Eu diria antes que é muito engenho, e do Diabo! E a bem dita senhora já tinha 11 filhos, 20 netos, 3 bisnetos e não sei quantos cães. Para quê mais dois?



Outro mito é o TPM. Para quem não sabe esta sigla significa Temperamento Pré-Menstrual. Venha o Carmo e a Trindade dizer-me que estou errada, mas para mim o TPM é mais uma justificação para a maioria da mulheres desculparem o seu histerismo e mau humor. Normalmente quem diz sofrer destas alterações hormonais costuma apresentar um padrão temperamental bastante linear o mês inteiro, ou seja, são tolas o tempo todo.

- "Ai que esta semana estou muito sensível, não me irritem! Não falem comigo!" (Ya, és mas é fresca..)

Um terceiro mito, e sem qualquer seguimento com os outros, é de que a água da torneira faz mal. Epa...não sei como se comportam vocês, meus caros leitores, mas a maioria das cozinhas das casas que eu frequento estão sempre bem apetrechadas de garrafas de águinhas minerais. E se por acaso me sirvo dum copo de água directamente da torneira, sou olhada como uma condenada à morte prematura. "Ai, é que tem muitas impurezas.." (Impurezas...pfff...hão-de sucumbir mais rápido pela idiotice).

Outro Mito é que o Aquecimento Global é bom. Isto é, para 99% das pessoas, aquelas que adooooram calor, que adooooram arder ao sol e, se for preciso, ainda se besuntam de óleo Johnson, e acham que a única consequência do Aquecimento Global é a prolongação da época Balnear. Até porque a Expressão "Aquecimento Global" tende a ser...'fofinha'...hummmm...aquecimento!...huuumm...quentinho!...hummmm, que bom! A ver vamos, daqui a umas décadas, quando pudermos estrelar ovos na testa, se vão achar o mesmo. Bom, pelo menos poupamos no gás.

Quarto Mito: basta deitar os resíduos para os eco-pontos, que depois eles separam. Desde que se atire para lá, está tudo bem encaminhado!

Bem, se os eco-pontos estão, só por si, divididos em Embalagens, Papelão, Vidrão, etc., é porque a separação é para ser feita pelos cidadãos. "Ah, eles lá nas centrais separam!" (com certeza que também agradecerão pelo esforço estonteante do cidadão palerma que resolveu misturar latas de atum com couves de Bruxelas e com uns quantos peluches da filha mais nova).

Quinto Mito é de que a Maya não é uma charlatã. Mas, realmente, quem poderá acusá-la de seja o que for? Se ela diz que o signo Aquário, nos dias 3, 4 e 5, pode vir a sofrer de problemas intestinais e, por isso mesmo, há que haver um cuidado redobrado, ela não está a enganar ninguém. 'PODE' vir a ter... No fundo, é a mesma coisa que dizer que existe alguma probabilidade de se morrer atropelado na Av. Lusíada ao atravessá-la de olhos fechados, por isso, preste atenção ao que faz.

Eu acho que a própria Maya é um mito. Aquela pessoa não pode existir de verdade.

Fico-me por aqui com os mitos urbanos actuais e despeço-me com uns quantos mais antigos e que deliciam qualquer um.

Sabiam que Jesus Cristo não defecava? Claro que não, que disparate. Ele era Loiro e não defecava. Faz todo o sentido.

E sabiam que os trovões são peidos (perdão) de Deus? Acho que ainda há quem acredite nisso.

Mas, apesar de tudo, sabemos que os mitos são o sal da vida, mais que o amor, pois fazem-nos sonhar e fantasiar...e fazer as mais hediondas asneiras. Who Cares? O Pai Natal? Eu depois falo com ele.

Ana Luelmo

maio 08, 2007

O Jovem

O Jovem. O Jovem é um bicho que tem muito que se lhe diga… ou se calhar não! Se calhar o Jovem é, justamente, uma criatura tão simples, tão básica, que tentamos dar-lhe um quê de complexo para justificar tamanha linearidade. Mas eu vou tentar não ser nem demasiado simples, nem demasiado complexa.

Jovem que é jovem, bebe…e bebe muito. (então… eu tenho 40 anos! Mas ok, eu escrevo um blog, e jovem que é jovem tem um blog, portanto, menos mal). E o Jovem bebe porque é fixe, porque é baril, ‘tás a ver? Porque é bueda totil, e quês…! Isto é, a maioria é assim. Depois há mesmo uns quantos que ganham real amor à pinga. Mas assim um amoooor que bate qualquer Romeu e Julieta. Se Shakespeare fosse vivo havia de triunfar com uma peça tipo “Godofredo e o tintól”. Mas adiante!

A história que se segue é apenas a de um episódio possível na vida de qualquer jovem que se preze. Quem, tirando eu, não esteve já na mesma situação? (Mande a sua história para - nãomeinteressa@gimail.com)

Pois que, nesta última 6ª, em mais uma incursão ao Bairro Alto, me deparo com um cenário interessante. Pensando bem, “interessante” é um termo carinhoso… mas não sei como adjectivá-lo melhor.

Chegando às Primas, ali como quem sobe da Rua da Atalaia (e quês…), vejo umas quantas caras conhecidas, a quem digo um simpático “olá, tudo bem, beijinhos à família”… mas, eis senão quando, vejo algo estirado no chão, com muita gente de volta. Depois reparei que a “coisa” respirava. Depois reparei que a “coisa” era, efectivamente, uma pessoa. Depois pensei: “OH, mais um palermóide que resolveu beber além da conta e que agora deve estar com a Alice no País das Maravilhas.” Só depois, passados uns minutos, reparei….”Hei, eu conheço aquela pessoa!”. E assim começa a Odisseia.

Havia vários problemas, e o jovem estirado no chão, a babar a calçada, era apenas um deles. Não digo nomes porque seria indelicado e…bem…quem não sabe agora quem é ‘o Jovem’ há-de saber mais tarde ou mais cedo. Porque há cenas que viram histórias, histórias que viram mitos, mitos que viram parábolas…e qualquer dia, temos um livro de autor intitulado “E você, onde estava a 4 de Maio?”

Mas como dizia, o jovem estirado no chão era apenas um dos problemas, porque a barracada que se instaurou superou tudo. Imaginem um funeral de ciganos. Ok, funeral é demasiado macabro…digamos antes uma manifestação de ciganos. Era mais ou menos esse o cenário.

“Aaaiiiiiiiiiiiiiiiiiii não toquem no miúdo”

“Dá-lhe chapadas, chaval, dá-lhe chapadas!”

“Chamem uma ambulâaancia”

Não vou dizer que não fiquei preocupada…mas…seria necessário estarem 20 macacos em cima do miúdo, a bafejar na cara dele? Desapareçaaammm! Deixem-no doooormir!

De tromba no chão, se for preciso! Qué para aprender! (ok, só digo isto porque ele está de boa saúde nos dias de hoje.)

Era um Vai e Vem de almas caridosas a querer ajudar (ou desajudar) e a dada altura já o tentavam levar não sei para onde, cada um com direito a uma perna ou a um braço; houve quem ficasse apenas com as calças, que entretanto iam ficando para trás (se ao menos fossem de marca…); E eu dei por mim a pensar “ele vai ficar constipado”…como se isso fosse alguma coisa perante o estado em que ele já estava. Enfim… Mas andaram apenas um metro, para sorte dele, porque senão ia conhecer o Bairro Alto todo num novo ponto de vista, não muito agradável.

Mas o melhor da festa foi quando alguém resolveu dar uma estalada “de meia-noite” à criatura inanimada e esta se levantou que nem saltitão a sair da caixa, e começou a grunhir como se não houvesse amanhã, distribuindo murros no ar (Desta vez pensei: ‘este gajo tinha jeito para fazer um filme de Época’). Não sei ao certo se alguém levou por tabela, só sei que se criou um perímetro de segurança à volta dele, em questão de segundos. E foi quando decidi que já tinha visto o suficiente e me fui embora.

Claro está que é tudo motivo para uma boa gargalhada no dia seguinte (ainda que com um saco de gelo na cabeça).

“Ah e tal, sou bueda maluco e quês…!”

Mas, como diria o Bruno Nogueira no seu brilhante anúncio a uma cerveja qualquer (porque anúncios de cerveja chamam-me tanto à atenção como os anúncios ao sabão macaco), tenham calma, sejam responsáveis, que para o ano há mais!

De resto, as restantes conclusões desta parábola…haaAAummmm….fica ao seu critério.

Ana Luelmo

maio 01, 2007

Oh! Caldas...

Não sei quem é que tanto chama o Caldas. A bem da verdade não sei sequer quem é o Caldas, se é que é alguém. Só sei que há jantares memoráveis, e este que vou relatar foi...no Oh! Caldas.

Imaginem-se a comer bifinhos com cogumelos (não sabem fazer outra coisa..?) numa espécie de varanda de madeira que ameaça ruir a qualquer momento. E claro que, quando se convida cerca de 40 pessoas e aparecem 50, a coisa torna-se mais confusa do que já se previa. Quer dizer... ninguém me confirmou que havia perigo meter 50 pessoas, mais mesas e cadeiras, mais 3 ou 4 empregados e respectivas bandejas a deambular numa estrutura com um metro de largura, mas foi só uma interpretação minha. Por isso, não levem a mal porque, de facto, não sou engenheira civil. E parece-me que nunca nada de sinistro ali aconteceu (até ao dia....).

Mas é sempre interessante fazer destas experiências: misturar todos os conhecidos e amigos e, simplesmente, ver no que dá! Claro que o aniversariante, à página tantas, nem o próprio nome sabia. Mas isso são contingências previsíveis, tanto que existe um plano de emergência: há sempre alguém que, no dia seguinte, relata o que quase ninguém se lembra.

No início começam por surgir grupos, no fim do jantar já se trata tudo por primas e primos. Quer dizer...há sempre uns desgarrados, no qual muitas vezes me incluo... porque enquanto eu bebo 4 copos de sangria, o resto do pessoal bebe 10. É natural que, a dada altura, comecem a ver até o pai e a mãe. Eu só os vi, efectivamente, quando cheguei a casa.

Não vou mentir, também comecei a fazer brindes estranhos, tipo "aos lagartos pitosgas", mas não foi muito para além disso (não sei...! Não questionem...acontece!).

Mas graças a...qualquer coisa...lembro-me disso, por isso o estado não é considerado comatoso.

Mas o aniversariante até as prendas perdeu, para a angustia de quem gastou não sei quantos euros para lhe dar um 'miminho' (há mimos caros)...mas lá apareceram nas mãos de...alguém.

A dona do restaurante, ou gerente, ou seja lá qual for o estatuto da senhora, de um loiro de farmácia e dentes de cavalo, já chamava totó ao miúdo porque este andava atrapalhado com as contas. Mas queriam o quê? Com pouca ou nenhuma classe a senhora gritava "Oh André, tu és mesmo totó!", e olhem que o decibel estava elevado o suficiente para restaurante inteiro ouvir. Mas o André apenas sorria (é adorável o Dedé), enquanto pedia ao "Facadas" duas moedas de 10 euros (desculpa, mas tens tantos amigos com alcunhas tão diversificadas, que escolhi este), e no fundo ouvia-se alguém a pedir sangria COM batatas fritas. What a F**k?

Para alguém sair do respectivo lugar era uma verdadeira gincana; se havia alguém sentado numa ponta e se lembrava de querer ir à casa de banho, a mesa inteira tinha de se levantar, praticamente sair do restaurante, e dar passagem. Houve quem optasse por um número mais "homem-aranha" e andar pendurado do lado de fora da varanda, para haver menos distúrbios. Só não sei se a criança assustada que estava no piso debaixo achou muita graça à hipótese de levar com um gajo em cima a qualquer momento.

Seja como for, os bifinhos estavam óptimos, ou eu não estivesse esganada de fome…bem…na realidade, acho que nem sequer lhes senti o sabor de tão rápido que comi (de repente lembrei-me da cadela do meu irmão). Mas pagar 12.50 euros por dois pedaços de carne de vaca e 5 cogumelos a boiar num molho estranho, não me parece razoável. Sim, porque havia que dividir irmãmente a comida com as restantes 49 pessoas e, sendo assim, não houve hipótese de encher o bucho fartamente. Mas pelo menos confirmou-se de que todos aprendemos bem a lição dos nossos avós que nos dizem “No meu tempo… tínhamos de dividir uma sardinha em dez, eu e os meus irmãos... e olha, filha, ainda cá estou, com muita saúde, graças ao Senhor”.

Mas como todos sobrevivemos e estamos cá para rir das desgraças (não, o jantar não foi uma desgraça, não me interpretes mal), estas situações são fundamentais...TÊM de acontecer! Senão não tinha graça.

E, Mafalda, eu não contei ao André que deixaste cair sangria para cima do livro...acho que ele pressentiu! Não fui eu que contei...!



Ana Luelmo

abril 19, 2007

Amazing London

Pois é, não é só ali a companheira Rita que se faz à Europa de vez em quando. Desta vez fui eu. E fui parar a Londres, o monstro.
'Monstro' mesmo só pelo tamanho, compreendam, porque não cheguei sequer a ver-lhe o rabo. E olhem que andei, andei, andei (ou melhor, andamos, andamos, andamos, não vá a minha mãe, e companheira de viagem, sentir-se negligenciada neste crónica) e devo ter visto apenas uma ínfima parte da cidade. Já tinha estado em S. Paulo, que é grande p'ra dedeu, mas ao contrário de Londres, vi tudo o que de bom havia para ver (o que não é difícil...mas não se ofendam!, vejam o lado bom da coisa: houve menos probabilidade de levar um tiro estando em casa).
Em Londres parece ter naufragado uma arca de Noé qualquer, pois há de tudo e mais alguma coisa. Nenhuma raça foi esquecida: paquistaneses, indianos, vietnamitas, brasileiros, chineses, japoneses, angolanos, portugueses, russos, e mais uns quantos géneros que eu nem sabia que existiam
- "Mãaae, o que é aquilo???!"
- "Acho que é uma pessoa, filha"
E vai lá tudo parar porque, faça-se justiça, o país reúne condições mais que excelentes para receber emigrantes. E é por isso que não entendo os nossos emigrantes, o que estão vocês a fazer em Portugal? Revejam a vossa bússola, é capaz de estar a indicar mal o Norte!
Mas é claro que continuo a voltar orgulhosa duma coisa, do nosso metropolitano! Não há cidade alguma da Europa ou fora, em que eu tenha estado, que tenha estações de metro tão bonitas, ora tomem lá!
Ok, não sou muitíssimo viajada, não vá já estar aí alguém a murmurar "olhem-me esta, pensa que é fina", mas do que já vi, acho o suficiente para dizer certas coisas. (eu já vos conheço, seus mandriões).
Mas gostei do sentido de organização londrina. Todos os bairros cintilam limpeza e disciplina. Tudo florido, tudo pintado de fresco, tudo rectilíneo, em sentido. E eu, a princípio, não entendia como, pois via tudo quanto era fedelho a atirar coisas para o chão ou a deixar embalagens nos cantos das ruas...mas reparei que, logo a seguir, aparecia um varredor que levava tudo. E então foi aí que percebi!, é como se cada habitante tivesse um 'Almeida' de serviço nas ruas (coisa de gente chique, muito à frente...). Tudo estrategicamente pensado, uma logística de alto nível! Mas, embora gostasse duma Lisboa mais limpa (sem dúvida, muito mais limpa!), ninguém me tira essa sinuosidade, os altos e baixos das colinas, as curvas e contra-curvas dos bairros... Lisboa é a cidade de planta mais medieval que conheço. E acho-lhe graça por isso. Houve alguém que disse as cidades fazem as pessoas: de Espanha saíram grandes guerreiros, austeros e determinados, e de Itália, os mais ternos e dedicados. Como as suas ruas, rectas e bicudas, e curvas e dengosas, respectivamente. No nosso caso devem ter saído os mais trapalhões, mas, de certo, com muita personalidade!
Continuando em Londres, também vi muito jovem agarrado à cerveja e, num dos dias, houve pancadaria em Manchester, por causas futebolísticas (já faz parte do cartão postal, na verdade).
Fui à Abadia de Westminster, onde passei por cima do túmulo de Darwin (não é todos os dias que se pisa uma celebridade) e espantei-me por este Senhor estar sob solo da Igreja. Passei ao lado do túmulo do Eduardo I, The King of Scots, e só me lembrava do Mel Gibson; e fiquei a saber que, para além de Handel, que também lá está, não conheço mais nenhuma das 3000 pessoas lá enterradas, ainda que ouvisse um grupo de Japoneses a fazer "Ahhhh", "Ohhh", a cada nome mencionado.
Posso agora aconselhar-vos que, se forem a Londres, nunca peçam informações, venham já munidos de mapas e guias turísticos, porque vão ser enganados na certa (não deve ser por mal, acredito...); que se quiserem fruta fresca e barata, têm de ir aos bairros mais ricos da cidade (irónico, han?); que não julguem que as distâncias são as mesmas que aqui, vale mesmo a pena entrar no metro para andar só duas estações, embora os bilhetes custem os olhos da cara (uns saudáveis); que o Big Ben é mesmo bonito, e que eles, sim, conduzem na outra mão...eu fechei os olhos quando o autocarro entrou numa rotunda pela esquerda...e vão ao cemitério de Earl's Court, que além de ser bonito, com túmulos com duzentos anos, têm uma atracção especial: esquilos, muuuitos esquilos! Que se quiserem fazer um cisne assado para o jantar, há-os aos molhos nos St James Parque (e trazer umas tulipas para a mamã); que o render dos cavalos da Guarda não tem piada nenhuma; que não tenham medo de levar boas máquinas fotográficas, porque toda a gente tem uma, e, mais uma vez, mapas, levam mapas, porque é possível perderem-se a 30 metros do Hotel (aconteceu).
Mas valeu a pena.

Ana Luelmo

março 27, 2007

Religioes

Vamos pegar num tema sempre actual, a Religião (ou as religiões).

É certo e sabido que, desde que o princípio da Humanidade, sempre houve a necessidade de conceber deuses, de divinizar tudo o que fugisse à normalidade conhecida, de personificar as forças da natureza, etc. Se por um lado era uma tentativa de compreensão dos fenómenos, por outro era o desejo profundo pela existência desses seres superiores, efectivos, guias e protectores. A consciência realista da nosso poder inferior perante os caprichos de um mundo em permanente mutação assim como dos seus viciosos ciclos naturais, torna só por si bastante razoável essa necessidade de procurar respostas no sobrenatural.
Acontecimentos como os eclipses eram considerados como uma manifestação da Ira dos deuses; ou sempre que se esperava chuva, faziam-se rituais propiciatórios, danças colectivas que hoje podemos chamar de bizarras, próprias de alguém sob o efeito de alucinogénios...mas faziam parte daquilo que poderá ter sido o início do culto do desconhecido, do início das religiões.
Regra geral, antes da 'marcha triunfal' das grandes religiões, como o Cristianismo ou o Islão, era banal adorarem-se vários deuses. Na Grécia Antiga, os deuses eram tantos quantos os que a imaginação permitia, penso até que muitos deles foram criados em momentos repentinos de inspiração e com muito álcool à mistura. Havia o grande deus dos céus, o deus dos mares, o deus da terra e o deus do fogo, que eram os principais, havendo ainda todos os seus subordinados, deuses do lar, da caça, da sabedoria, da beleza, disto e daquilo, havendo até o muito famoso deus do vinho (aposto que é mais conhecido que o próprio Poseidon (ou Neptuno), porque entre vinho e água...a escolha parece-me óbvia). E o mais interessante é que estes deuses possuíam virtudes e defeitos, à semelhança dos humanos, tinham até humores bastante especiais, o que, em muitos casos, até ajudava ainda mais à sua ascensão ao estrelato, à semelhança com um actor de hollywood, que quanto mais semelhanças tiver connosco, mais próximos dele no sentimos e mais o adoramos. Convenhamos que entre a história de uma Angelina Jolie (apesar de linda), filha de actores, rica desde que viu o sol pela primeira vez, e a história duma, quiçá, Jennifer Lopez, vinda directamente do Bronx, que triunfou por mérito próprio (opiniões à parte, o que interessa é que se deu bem p'ra caramba), esta última transmite uma magia diferente.
Mas voltando ao assunto primordial, é interessante perceber que, ao longo dos tempos, as religiões se foram simplificando. Do Politeísmo partimos para o Monoteísmo. De deuses temperamentais, partimos para um Deus austero. E parece-me a mim que a unicidade de Deus foi, sem dúvida, uma religião criada para minorar cismas e divisões. É mais simples, tu adoras o mesmo deus que eu, não temos chatices. Enquanto seria de esperar que os adoradores de Baco e os adoradores de Hermes (por exemplo) andassem à batatada porque enquanto um era boémio o outro era romântico (enfim...pode parecer um exemplo ridículo, mas apesar de ser apenas uma ilustração, o que não falta na história das religiões são acontecimentos ridículos), os adoradores do único deus existente não têm esse tipo de constrangimentos.
E a conclusão que eu tiro deste mesmo pensamento, é que a nossa luta, neste século e no outro que há-de vir, se deveria concentrar em unir cada vez mais as religiões e unificar cada vez mais os deuses por aí "espalhados". Entendamos Jesus Cristo, Maomé, Krisna e todos essas personalidades, como discípulos de um mesmo deus, portadores de uma mesma mensagem, porque no fundo, a mensagem é realmente muito próxima, senão a mesma. Na evolução das ditas religiões é que está a verdadeira distinção. Todas as religiões nascem no espiritualismo, embora acabem por se extinguir no materialismo, tornando-se exterior ao homem. As divisões criadas pelas mesmas, ou melhor, as divisões criadas pelo homem em nome das mesmas, afastam-no do verdadeiro ideal. Por um deus lutou-se por terras, por títulos, por tesouros e, assim, por um deus cortaram-se cabeças, queimaram-se livros, saquearam-se cidades e exterminaram-se povos inteiros. E no fim, o homem percebeu que, ao querer tanto ver esse deus, essa religião materializada em coisas, deixara de a sentir dentro de si.
Um Hip-Hip-Hurra para aqueles que vêm na mensagem de Jesus Cristo um ideal a seguir, ao mesmo tempo que se debruçam sobre a filosofia Budista, e que ainda assim esperam, como os Judeus, a vinda do grande Profeta, deixando um espaço para o cepticismo e o racionalismo 'clínico', respeitando a palavra igualmente importante da Ciência. Um Viva para aqueles decidiram adorar o sol e todos os astros, pela sua presença constante, sem puxar da espada (ou da pistola, ou do sabre, ou da faca de cozinha...) e sem menosprezar os outros Credos. A benção para todos os que seguem a simples religião da Alegria, amando todos os pequenos detalhes em todos e em si mesmos...porque simples, simples, simples, é viver sem esperar nada, esperando tudo.

Ana Luelmo