Rebeubeubéu pardais ao ninho

Carnaval 2006

Cá estamos nós em época carnavalesca, mais uma vez. Eu, sinceramente, gosto muito do Carnaval. Não que eu o viva em todo o seu esplêndor, já que fazem uns bons anos que nem sequer me mascáro. Confesso que por perguiça, mas também porque, por mais que seja adequado à época, sinto sempre que toda gente nos olha como se fossemos uns atrasados mentais a brincar aos super-heróis ou aos circos. Mas, apesar de tudo, acho engraçada a ideia de, uma vez por ano, o pessoal se mascarar do que bem entende, daquilo que sempre quiseram ser, mas não são. Mas infelizmente o nosso carnaval é bem triste. É triste porque não tem qualquer laivo nacional. Porque de há uns anos para cá temos vindo a importar o carnaval brasileiro, o samba, a gostosas de biquini, etc. E eu continuo a não entender o propósito!
Não tenho nada contra o carnaval brasileiro, aliás acho que é um dos espectáculos mais bonitos a nível mundial. Nem nada contra as gostosas de carnes ao léu, até porque a palavra "carnaval" quer dizer "carne vale", pois trata-se da época imediatamente antes da Páscoa, na qual ainda se pode comer carne (gostaram da relação?). MAAAs, essas gostosas de biquini fazem todo o sentido no sambódromo, o samba faz todo o sentido no SAMBódromo, os carros alegóricos e todo esse espalafato fazem todo o sentido lá, no Rio de Janeiro, de onde é originário esse espectáculo. Agora, eu pergunto-me, que fazem dúzias de raparigas desnudadas, em pleno Inverno e a chover, a sambar em Sesimbra ou em Torres Vedras? Raramente sabem sambar e raramente têm um ar feliz. Lá vêm elas com a pele aroxeada do frio e a trotear em cima d'uns tamancos horrorosos. No meio sempre se encontram umas quantas brasileiras adquiridas à última da hora, mas nem assim conseguem devolver alguma dignidade a este "show de quinta". Não faz qualquer sentido.
E se por um lado temos o samba do Brasil, por outro lado temos as máscaras "faça-você-mesmo"...e aí temos o quê? O quê? Não são capazes de adivinhar? HOMENS VESTIDOS DE MULHERES! No meio duns quatos palhaços, umas princesas e umas bruxas, lá vem uma ala, duas alas, três alas de homens com roupas femininas, batôn esborratado, collants rotos a deixarem adivinhar os pêlos, mamas feitas de balões ou qualquer engenho bem exagerado... e eu ponho-me, serimente, a duvidar da masculinidade destes portugueses, porque TODOS eles tiveram a mesma ideia e TODOS eles voltam a repetir o disfarce no ano que vem. Falta de imaginação ou uma vontade imensa de se sentirem mulheres? O nosso universo é bem tentador, estou a ver. E, para terminar, os famosos cabeçudos, a sátira habitual à política nacional. É pena é serem sempre os mesmos bonecos...apenas lhes mudam um adereço ou outro. Nesse aspecto temos sorte pelos problemas do país serem sempre os mesmos, assim nunca é preciso actualizar as fantasias.
Seja lá qual for o verdadeiro conceito do carnaval, é verdade que já estaremos muito afastados dele. Mas seja como for, não é necessário adoptarmos as tradições dos outros, um pouco de criatividade não nos ficava mal.

Ana Luelmo

posted by ludeiro @ segunda-feira, fevereiro 27, 2006