novembro 25, 2005

Odisseia no metro!

Já estava com saudades de escrever e eis que tenho um assunto supimpa para vos falar. A vida...no metro!
Este texto é dedicado áqueles que nele andam diariamente... E mais especificamente àqueles que nele andam logo pela manhãzinha...na bem-dita hora de ponta!
Eu entro em Alfornelos, logo às 7h30 da madrugada (uma violência!). Apesar de haver uma única estação antes de Alfornelos, as carruagens já vêm bem pejadinhas! Lugar? Só com muita, muita sorte macaca! Mas eu como sou novata e ainda não tenho problemas de joanetes nem ernias discais, lá vou aguentando. E fico por ali, a observar o meio circundante...a vida no metro...as relações que se estabelecem...as reações que se produzem...as situações que se desencadeam.
As pessoas que mais me chamam à atenção são aquelas senhoras de idade (para não dizer outra coisa...) que vão a correr para os bancos disponíveis como se estivessem a jogar ao jogo das cadeiras. Podem ter mil e uma doenças, desde catarros a febres altas, mas empurrar sabem elas! E se não encontram nenhum vago, lançam logo um olhar de morte a quem estiver sentado. "Ai, esta juventude é uma tristeza...são todos uns malcriados...Oh Dona Fatinha, ando eu aqui aflita do meu cócsix e ninguém me dá um lugar". Será que depois disto alguém tem vontade de lhe dar um lugar??????
É claro que estas senhoras têm, regra geral, muito bom aspecto, emanam saúde, são até coradinhas, mas só porque já passaram a barreira dos 50 já se acham no direito de serem, orgulhosamente, consideradas invalidas. E até há as que têm realmente problemas...mas escusam de os mostram triunfantemente! Como num dia destes, que uma senhorinha alçou a calça para mostrar as suas pernas martirizadas sabe-se lá bem do quê...foi uma verdadeira visão do inferno...eu até compreenderia, não estivesse a senhora já bem sentada e acomodada e ninguém lhe ter pedido qualquer explicação...
Depois temos os bebés...o raio dos bebés...não tenho nada contra bebés, mas contra as pessoas que os adoram! Mal entra uma moçoila com uma criança de colo e meia carruagem se vira para observar a tez angélica. E começam-se a ouvir bi-du-bi-du's dum lado...sorrisinhos do outro...senhoras a saltar e a bater palminhas...senhores a apertar o nariz dos pobres fedelhos que se mantêm com aquele ar de "saiam-daqui-seus-anormais".
E quando se chega a Sete-Rios? Hein? É um espectáculo bonito de se ver. Eu encolho-me bem, porque já sei o que se vai passar a seguir. Abrem-se as portas e começa o ritual animalesco do empurra. No pelotão da frente vêm as velh...as senhoras de idade...projetadas no vidro oposto, enquanto o pelotão de trás tenta entrar como se estivessem a tentar sair duma ponte bamba sobre um rio de crocodilos.
Só se ouve coisas como "aaaaiii, não empurrem...", "aiii jesuuuus", "safaaaados!"... E depois começam os insultos, as ameaças...

Senhora 1- Você é uma malcriada! Já viu que me empurrou e nem me pediu desculpa??

Senhora 2- Ai, não, não tenho de lhe pedir desculpa coisíssima nenhuma, você é que se devia ter afastado!

Senhora 1- O quê!? Sua ordinária! Se você não fosse uma velha já lhe tinha enfiado um murro nas trombas!

Senhora 2- E você é uma cobarde, quer bater em idosos. SUA COBARDEEEE, SUA COBARDEEE!

Voz vinda não sei de onde- Calem-se suas peixeiras!

Jovem idignada- A senhora é uma estúpida, fala assim para os idosos, a senhora está a ser muito estúpida!

Senhora 1- Cale-se!
Jovem indiganda- Cale-se você! A mim ninguém me manda calar!
Senhora 1- Cale-se você...a boca é minha!
Jovem indignada- Cale-se você!
Senhora 1- Não, não, Cale-se Você!
JOvem indignada- Xiu!
Sonhora 1- Caluda! Calô!
Jovem indiganda- Chiuu! Quer bater é, quer bater? Venha cá! Venha! ....

E eu não sei se hei-de rir ou chorar...as pessoas vêm com uma tal disposição para se agredirem umas às outras que chega a ser assustador! Sempre é melhor ouvir conversas sobre Xanax's e Hemorroidas, catarros e intestinos presos, do que ir até à Baixa-Chiado a ouvir "caludas". Ou até ter de ver as fotografias dos netinhos da Dona Adozinda do que assistir a momentos bárbaros de pessoas que praticamente ficam com a cabeça presa nas portas, pendurada do lado de fora, só para de entrar no metro.
O Mel Gibson havia de recriar um belo filme medieval com este tipo de argumento. Fica aqui a sugestão...

Ana Luelmo