março 15, 2004

Cú da Europa II

Bem visto e bem dito, amiga Rita! Portugal tem muitos problemas que provavelmente já vem do tempo do Afonso Henriques! O tal que andou à “trolha” com a mãe para conquistar o trono...não é que hoje ainda anda tudo a bater na mãe?!
Para os resolvermos a todos seria necessário lançar uma bomba atómica bem no meio do país, e reconstruir tudo de novo! Mas como essa não seria a solução mais votada se houvesse um referendo, pensemos noutras hipóteses...
Que tal se fôssemos mais humildes? Hein? O que acham de, em vez de perseguir o ideal de nos assemelharmo-nos cada vez mais aos grandes países industrializados, olharmos para o bom que temos cá dentro do nosso país? Qual seria o problema se Portugal continuasse a ser um país de pescadores e agricultores? Daqui a pouco nem esses os há, porque vai tudo a correr para os aglomerados urbanos, a pensar que mal cá chegam tem uma colocação na Presidência duma Multinacional qualquer.
Depois vem essas Senhoras dizer que somos o cu da Europa! Aposto que ela vê todos os dias o Big Brother, os Acorrentados, as Operações Triunfo 1, 2, 3 e 4, e gasta rios de dinheiro a mandar mensagens de telemóvel para “salvar” o Pedro, que é um gajo podre de bom, pena que não cante nada.
Não tenho nada contra a música, viva a música...

Mas não vamos mais longe, já que estamos numa sala de aula, falemos dos professores. Andam para aí a queixar-se que não há colocações, mas o interior do país está bem precisado deles! O problema é que os jovens de hoje, quando tiram um curso, não é para fazer alguma diferença no mundo, não é para realmente exercer a função, é para ganhar um salariozinho, para comprar uma casinha, ter dois filhos (de preferência um casal) e rezar para que a reforma chegue rápido. Querem ter todos vagas à porta de casa, para não gastar muita gasolina. O interior? Os analfabetos? Não tenho nada a ver com isso...
E quando se fala em professores, fala-se de médicos, and do on, and so on.
Este é só um exemplo.
Outro grande problema é andar por aí a dizer frases bonitas sobre o nosso próprio país, quando nada se faz!
Sabemos bem que não vivemos mais na época dos Heróis Românticos como Garibaldi ou Che Guevara, mas um pouquinho de patriotismo não fazia mal a ninguém.
A próxima vez que disserem “este país é uma m****. Vou trabalhar para fora”, reflictam, e vão perceber que se calhar seria mais sensato se dissessem “Este país está mal, vamos trabalhar para o melhorar!”. Mas a palavra “trabalhar”, há que relembrar, é mesmo trabalhar! Embora muita gente ainda o associe ao significado de origem latina tripalium, que significa “torturar”. Havia mesmo um instrumento de tortura com esse nome... mas tirem daí o sentido!
Se descobrirem que não tem vocação para nada em concreto, então constituam família, ocupem-se dos afazeres de casa, mas não amolem o juízo dos restantes.
Também não vejo mal nenhum em ser-se Dona de casa, se se disser, com dignidade, “Sou Dona de Casa! Olé!”
Para quê martirizarmo-nos por não sermos a ponta da faca do Supra-Desenvolvimento!? Desenvolvimento nem sempre é sinónimo de telemóveis de ultima geração, daqueles com câmera, televisão, casa de banho e mais um par de botas. Desenvolvimento é sinónimo de civilização, ou pelo menos foi. E civilização baseia-se em respeito mutuo, trabalho, humildade e honestidade, mas é claro que são noções a mais num dia só, cuidado ao fazer a digestão!!
O que Portugal precisa é de aceitar os seus problemas reais para os tentar superar, mas não podemos ter pontos de comparação constantemente. Sejamos um pouco independentes por uma vez na vida.
Temos de fazer como nos Alcoólicos Anónimos; a primeira fase a ser ultrapassada pelo alcoólatra é aceitar que tem problemas. Tomemos Portugal embriagado, e desembriaguemo-nos! Embriagado de falsas esperanças e ambições estapafúrdias, em suma, embriagado dos portugueses!
E olhem que quem vos fala também gostava de ter uma casa maior, e, se possível, com vista para o mar... mas talvez dispense um telemóvel igual aos anúncios; um visual como o da Britney Spears; um armário cheio de roupa de marca; um par de sapatos de cada cor; cremes para cada cm3 de pele; já agora um champô última sensação, mais o amaciador, o condicionador e qualquer coisa para as pontas espigadas!
É bom ter-se o dinheiro para gastar no que se gosta, mas se algum dia, a algum de vocês, e a mim, nos faltar dinheiro, rezemos a Deus Nosso Senhor para que não tenhamos sido atingidos pela doença do novo século, a “Fartura”, e consigamos viver bem e felizes com o essencial.
Um conselho: embora muitos portugueses não tenham sequer dentes, porque preferiram comprar uma televisão panorâmica em vez de arranjar a boca, sorriam, sorriam mais!
E lembrem-se também que quem faz um país são as pessoas, não os seus montes e vales. Em resposta à senhora que disse “Portugal é o cu da Europa”, aqui tem, acabou de se auto-promover a olho!

Ana Luelmo