janeiro 31, 2004

Pomba Branca


Havia uma pomba muito branquinha, que vivia num ninho muito asseadinho, dentro de 1 carvalho.
A moradia tinha 3 assoalhadas; era 1 andar com acabamentos de luxo, num prédio também de luxo.
Estava decorada com sofás de pele, naperons de cetim, e o leito era em palhinha de seda selvagem.
Por todo o lado se via puro bom gosto.
Era uma casa simpática!
A pombita que lá vivia era a Pomba da Paz.
Todo o santo dia, a pomba branca lá saia cedo, depois de tomar o seu pequeno- almoço, uma taça de Allbran e 1 iogurte com bifidus activus
( a pomba sofria muito dos intestinos!).
Lá partia ela, todos os dias, pronta a distribuir paz por todó mundo.
Ora que numa dessas viagens, eis que se cruza no seu caminho, 1 periquito amarelo, 1 garanhão!
Tinha argola na orelha (que orelha?), blusão de cabedal, botas de cowboy, slip abanderado às riscas e era o chefe dos Motards dos Periquitos.
Ia a caminho de Faro e, eis que se depara com Pomba Branca, fresca e cremosa.
Pomba Branca, pura donzela, que tinha feito voto de castidade (o que a religião obriga), teve de repente desejos impróprios.
Piricôncio, rebolando-se à sua frente, começou a fazer striptease no alto de uma extensão eléctrica. Num ápice, Piricôncio fazia já um número de acrobacia, com o bico agarrado ao fio eléctrico, rodando freneticamente.
Mas, não se sabe como, recebe um choque tremendo que o desfaz completamente, restando apenas algumas penas no ar. Nesses poucos segundos, Pomba Branca pode ver Piricôncio como num raio-X, o seu pobre esqueleto sendo carbonizado, pareciam até luzes de Natal… No chão jazem dois olhos e o bico…
Foi o último dia de vida de Piricôncio…um periquito sadio e alegre, sempre pronto para a brincadeira, sempre com uma palavra amiga para o seu amigo…
As últimas imagens que esta pobre criatura viu ao morrer foram; periquitas doiradas, vestidas de biquini, bailando no palco do “ Elefante Branco”; a mãe, D. Piu, bicando no fogão; as “bubadeiras” que apanhou em jovem, com seus camaradas motoqueiros…
1 segundo depois, o sangue jorrava-lhe dos olhos, os seus ossinhos estalavam, o seu cérebro estorricava.
Por isso, continuamos a lutar para tornar os fios de Portugal mais seguros, porque a sinistralidade continua imensa; jovens periquitos continuam a morrer na flor da idade.
Sr. Durão, fica aqui o apelo.